Algumas coisas sobre o amor

Foto: We Heart It

O dia estava nublado, mas não fazia muito frio. Havia um casal sentado em um banco da praça. O mais curioso não era a aparência do garoto e da garota, o cabelo ou a cor do olho. O mais curioso é que eles eram diferente de todos aqueles casais que passavam por ali. Eles estavam extremamente próximos um do outro e não soltavam as mãos em momento algum. Ele beijava a mão, a testa, o braço e até o cabelo da garota. Ela, por sua vez, fazia carinhos no cabelo do garoto, o enrolava por completo e deixava todo bagunçado, só para faze-lo sorrir. E fazer isso não era nem um pouco difícil. Além do mais, apenas observando os dois eu podia sentir o amor em seus olhos.
Foi nesse momento em que eu resolvi ficar para assisti-los. Olhando aquele amor, fiz uma pergunta a mim mesma: Por que nem todas as pessoas são assim? De imediato, respondi e acho que a resposta saiu em voz alta, mesmo sem querer. Acho que é porque ser um casal assim, grudado e amoroso, já saiu fora de moda. As pessoas costumam olhar torto para isso, achando muito bobinho essa coisa de cuidados e carinhos. Enganam-se, coitados.
Na verdade, é lindo tudo isso. Essa falta de vergonha de demonstrar o sentimento que os une, sem guardar a mão no bolso quando alguém está passando. O que temos que guardar no bolso é toda essa falta de amor. 
Acabei perdendo-me entre meus devaneios. Quando voltei a realidade o casal já havia partido. 
Por anos não os vi. Claro que os reconheceria se passassem por mim. Vi muitas e muitas coisas. Coisas que vocês não imaginam. Porém, não vi coisa tão bela quanto aquele casal. 
Triste noite de abril de 1999. Foi a noite em que re-vi aquele casal - em partes. Fui mandada a um endereço que não conhecia para fazer meu serviço - acho que não havia me apresentado, onde estão meus modos? Sou a morte, muito prazer - e chegando até lá, de imediato quis sair correndo. Sim, era o mais belo casal. Eles estavam velhos, com rugas e dificuldades para andar. Logo, como manda a vida - ou a morte- a hora do homem, que na época era o garoto que não parava de beijar sua amada, havia chegado e ele estava me esperando no sofá. A senhora - ou a garota, anos atrás - estava com seus olhos completamente cheios d'água e já sabia como tudo iria ocorrer naquela noite. De fato, tudo ocorreu. Levei seu marido para muito longe dela. Eu não queria fazer isso, juro para você, mas não sou eu que dou as ordens. Olhar aqueles olhos tristes e desamparados daquela senhora me deixou sem saber o que fazer. Foi a noite mais difícil que passei. 
Por fim, depois de levar tudo o que aquela senhora tinha, me retirei. Posso ter levado o maior bem dela, mas mesmo depois de tudo, não consegui levar nem um pouquinho do amor. Tudo ficou. O amor. Ficou.

2 comentários:

  1. Lindo texto, você é uma ótima escritora parabens :)
    to seguindo aqui

    http://altoseebaixos.blogspot.com.br/

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